Friday, September 08, 2006

Sexta-Feira, 8 de Setembro de 2006

CANTO ÍNTIMO

Meu amor, em sonhos erra,
Muito longe, altivo e ufano
Do barulho do oceano
E do gemido da terra!
O Sol está moribundo.

Um grande recolhimento
Preside neste momento
Todas as forças do Mundo.
De lá, dos grandes espaços,
Onde há sonhos inefáveis
Vejo os vermes miseráveis

Que hão de comer os meus braços.
Ah! Se me ouvisses falando!
(E eu sei que às dores resistes)
Que acabarias chorando.
Que o amor abriu no meu peito.
Que eu tenho a Morte em mim mesmo!
Dir-te-ia coisas tão tristes

Que mal o amor me tem feito!
Duvidas?! Pois, se duvidas,
Vem cá, olha estas feridas,
Passo longos dias, a esmo...
Não me queixo mais da sorte
Nem tenho medo da Morte

"Meu amor, em sonhos, erra,
Muito longe, altivo e ufano
Do barulho do oceano
E do gemido da terra!"


(Augusto dos Anjos)

1 comment:

Anonymous said...

igor que poema triste, porém muito bonito...um abraço