Thursday, November 29, 2007

Augusto dos Anjos

Poucas pessoas em nossa literatura souberam utilizar o metafísico para falar de questões fáticas e universais como o poeta Augusto dos Anjos.
Sua liberdade estava não só no fato da fuga através do surreal, mas no próprio fazer poético. Era uma alma livre que sabia se expressar buscando dentro de si mesma percepções de mundo riquíssimas!
Em seus poemas buscou retratar a triste condição humana. Seus vícios e futura degradação ao mesmo tempo que nos remete a um profundo sentimento de perda de tudo, quando escreve sobre o tempo e sua passagem até nos tornar de novo ao pó do qual viemos.
Dedicarei este post à sua figura! Em poucas linhas homenageio um poeta que me causou anímicas excitações!
Que me proporcionou instantes de contemplação silenciosa de tudo ao redor, e de mim mesmo. Chocando-me com verdades intangíveis e úteis para todos os meus momentos.
Aqui, um trecho de um de seus principais poemas, onde ele fala sobre a condição humana como se fosse, ele próprio, a sombra do homem.

(...) Ah! Dentro de toda a alma existe a prova
De que a dor como um dartro se renova,
Quando o prazer barbaramente a ataca...
Assim também, observa a ciência crua,
Dentro da elipse ignívoma da lua
A realidade de urna esfera opaca.
Somente a Arte, esculpindo a humana mágoa,
Abranda as rochas rígidas, torna água
Todo o fogo telúrico profundo
E reduz, sem que, entanto, a desintegre,
À condição de uma planície alegre,
A aspereza orográfica do mundo!
Provo desta maneira ao mundo odiento
Pelas grandes razões do sentimento,
Sem os métodos da abstrusa ciência fria
E os trovões gritadores da dialética,
Que a mais alta expressão da dor estética
Consiste essencialmente na alegria.
Continua o martírio das criaturas:-
O homicídio nas vielas mais escuras,-
O ferido que a hostil gleba atra escarva,-
O último solilóquio dos suicidas -
E eu sinto a dor de todas essas vidas
Em minha vida anônima de larva!"

(mónólogo de uma sombra- Augusto dos Anjos)

Thursday, November 22, 2007

Dia Da Consciência Negra

Numa total falta do que fazer, acabei por visitar uma de minhas comunidades no orkut e discutir sobre o tema acima. Eis o que penso, escrevi e reescrevo aqui...
Acho que não deveria existir. Isso é uma consciência que deve existir em cada um de nós com respeito ao negro no nosso país. Esse fato de ter de lembrar ao cidadão que se deve ter respeito para com eles é muito pouco! É mais uma medida "peneiral" que não cobre anos de desigualdades! É o governo dando migalhas, querendo calar a boca do povo!
Até porque, muita gente nem lembra disso! Se a imprensa não informar, se não sair no boca-a-boca ninguém vai nem notar! Tem gente que não lembra datas antiquissimas e tradicionais no Brasil! Só sabe que é feriado! Tô errado?
No fundo tem gente que não tá nem ai pra o negro, essa é que é a verdade!

Thursday, November 15, 2007

Capote

Ontem assisti ao filme Capote. O filme narra uma parte da tragetória do escritor Truman Capote e fala sobre uma de suas maiores obras: o livro de não-ficção A sangue frio.
O centro do filme é o próprio escritor, ficando o assunto crime em segundo plano. O escritor, para compor seu livro, se utiliza de depoimentos dos próprios criminosos que assassinaram uma família do Kansas para roubarem um suposto dinheiro que o chefe da família guardava, tendo encontrado apenas, mesmo vasculhando tudo e tendo matado a todos uns 50 dólares.
Os criminosos, sentenciados à morte na forca, dizem-se arrependidos, contam sua história de infância e isso tudo nos remete indiretamente a sua mente. A melancolia que o filme traz com os adiamentos no cumprimento da sentença e a agonia dos presos na espera seguido ao fato de Capote os estar manipulando e enganando para obter seus depoimentos enquanto finge que terão uma "redenção" através do público que os entenderá através do livro nos torna cada vez mais simpatizantes com os assassinos e nos faz odiar Capote pelo seu jeito cínico e falso para com todos ao redor.
O fato é que o filme vai mexendo com você, no fundo trava-se uma luta de valores onde você se inclina cada vez mais para o lado dos criminosos até ver nas cenas finais onde se mostra os assassinatos, que é quando você os despreza.
É interessante notar, principalmente pra quem tem essa sensibilidade como se está envolvido. Parar e se perguntar: Eu estou sentindo pena de um assassino frio que matou uma família de inocentes? Eu os estou defendendo?
Esse auto-exame voluntário, ou não, é útil para nos mostrar o quanto estamos "ligados" ao outro. Que com a habilidade e as palavras certas, outros podem facilmente dobrar nossas vontades e conceitos nos tornando cúmplices de atos imperdoáveis. O tempo que vai passando e nos distancia do fato ao mesmo tempo que nos aproxima do criminoso o torna menor e menor.
Conhecer a história por vezes comovente dos milhares de criminosos no mundo, seu desespero, seu despreparo social, nos ajuda a entendê-los? Em maior grau, nos ajuda a perdoá-los? O tempo muda a cena do crime?